PROFESSOR XAVIER: O poder e a fraqueza
- Luiz Mello
- 18 de mar. de 2017
- 7 min de leitura
Em meio a todo drama vivenciado por Logan, o personagem principal do filme, somos arrebatados por um personagem que sempre rouba a cena, professor Charles Xavier. Um dos mutantes mais poderosos do universo Marvel, em virtude de sua capacidade psíquica e ainda o grande mentor e fundador dos X-men, inclusive, foi o primeiro a tomar como missão de vida o sonho de "convivência pacífica entre humanos e mutantes", sonho este que tem influenciado quase todos os heróis mutantes da Marvel.
Entretanto, Charles Xavier não é introduzido como o sábio e maduro professor, mas como um velho fraco e lunático. Ele está sofrendo de uma doença neurodegenerativa que o faz perder o controle de suas habilidades telepáticas para um efeito devastador. A imagem representada por Patrick Stewart é chocante, uma figura triste de se ver: um senhor brilhante cujos anos o alcançaram, e junto com eles o cansaço, a velhice e a loucura. Vemos em seu olhar um homem que luta contra sua própria mente, sua forma de falar denuncia o seu cansaço e a sua sensação de impotência naquela situação. Ao mesmo tempo, ele funciona como o necessário alívio cômico, soltando o verbo sempre que necessário.
Os poucos elementos de comédia que vemos no filme são bem encaixados e a ironia presente na maior parte deles funciona como o clássico "rir para não chorar”, de personagens que viram o mundo ao seu redor desabar. Contudo, não há como não olhar para Xavier e lembrar do seu passado e da sua tentativa de tornar o mundo um lugar melhor para aqueles de sua raça.
Ao assistir Logan, somos confrontados com a tensão vivida por Prof. Xavier: poder e fraqueza. Os poderes do professor Xavier ainda estão lá no fundo da alma, algo que não se ausenta facilmente, não há como fugir da verdade que Xavier ainda é um dos mutantes mais poderosos da face da terra. Apesar disso, existe uma fraqueza que o atormenta, o tornando um dos mutantes mais perigosos de todos os tempo. Agora o seus poderes se tornaram incontroláveis e Logan precisa ajudá-lo constantemente. Aquele que ajudou todos os mutantes a controlar o poder, inclusive os poderes de Logan, agora está em um beco sem saída. Prof. Xavier vive o maior dilema de sua vida: O poder e a fraqueza.
A maior batalha de Xavier está sendo travada na sua própria mente. A situação é como se existissem dois gigantes dentro dele que nunca param de lutar.
Luta interior
O contexto vivido por Prof. Xavier me levou a uma reflexão sobre o dilema da vida cristã. O confronto entre ser santo e ao mesmo tempo pecador. O dilema de ter Alguém que me possui, o Espírito Santo, e ainda possuir pecados no meu coração. Existe um ser dentro de mim que é maior do que tudo no mundo, Deus e existe outra força dentro de mim que é pior do que todas as coisas no mundo, a minha rebelião. A situação é como se existissem dois gigantes dentro mim que nunca param de lutar.
Paulo vivenciou isso na própria pele e expressou muito bem essa verdade em suas cartas.
De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço. Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. Romanos 7.18-20
Paulo tem a certeza que a vontade de Deus, os princípios estabelecidos e os valores apresentados na Palavra de Deus são bons e perfeitos, não há duvidas quanto a isso, mas ele conclui o seu pensamento na certeza de que nada de bom vive dentro dele. Paulo explicou: "Eu desejo fazer o que é bom", mas não posso realizá-lo. Paulo reconhece que, mesmo pertencendo a Deus, ele tinha resquícios de pecados permanentes que o possuíam como escravo, e que ainda se expressava através dele para fazer coisas que ele não queria fazer e não fazer as coisas que desejava fazer.
A relação do pecado com a criação é parecida com a relação de um parasita com o hospedeiro. Um parasita é um organismo que vive à custa do sangue de outro, a sanguessuga. O pecado se prende a criação enquanto a desfigura, deforma, desorganiza e corrompe. O pecado não destrói a criação, ele mancha a beleza do mundo.
Este é um problema comum a todos os seres humanos, inclusive cristãos. No entanto, discípulos de Jesus receberam o sangue purificador, neste instante o Espírito Santo sobressai em nossas vidas como o poder de Deus para destruir o parasita. O pecado é um parasita em nossa vida, ele não nos destrói em primeira instância, mas nos enfraquece nos matando lentamente.
Nós temos em nosso interior o maior dilema da vida: O poder e a fraqueza; o Espírito e a carne. Tudo isso ocorre por causa da tensão entre a vida de Cristo e a vida de rebelião. Existem duas vozes que gritam dentro de nós: O Espírito Santo e a nossa própria vontade.
Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis. Gálatas 5:17
Paulo explica a necessidade de uma vida que é controlada e energizada pelo Espírito. A explicação é encontrada no fato de que cada cristão tem duas naturezas, uma natureza pecaminosa recebida no nascimento, herdada do Adão caído e uma nova natureza recebida na regeneração quando o referido cristão se tornou participante da natureza divina (2 Pedro 1: 4). Ambas as naturezas têm desejos, um para o mal e outro para a santidade. Assim, eles estão em conflito uns com os outros.
Quem vencerá a luta?
Digo, porém: Andai no Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne. Gálatas 5:16
A resposta aos abusos descritos no verso anterior é viver pelo Espírito. O verbo peripateito é um imperativo presente e é literalmente traduzido, "continue caminhando". Um discípulo de Jesus deve viver diariamente dependendo do Espírito Santo, pois, como discípulo de Jesus, ele é habitação do poder de Deus. Por isso, aquele que se rendeu ao evangelho, automaticamente recebe um desejo que nunca existiu, o desejo de viver para além de si mesmo, viver para Deus. A partir desse momento, não vive sob o domínio do parasita, mas de Deus e por essa razão que uma guerra é travada. Deus está diariamente destruindo o poder do pecado e nos formando a imagem de Jesus.
Deus quando olha para nossas vidas vê a imagem do seu Filho, pois fomos selados e comprados pelo sangue de Jesus. Contudo, a santidade está atrelada ao dia a dia, um caminhar pela fé em Cristo, quanto mais próximo eu estiver de Jesus, mais santo eu serei. Hoje, para o cristão, santidade não está relacionada a perfeição, mas a conexão com Cristo. Somos santos porque Jesus nos declarou santos, somos santos porque Jesus nos faz santos, somos santos porque estamos sendo transformados todos os dias.
Está travada uma constante batalha em nosso coração. O espírito que vive em nós é o poder de Deus que atua em nós e o pecado que nos atormenta é o parasita que nos consome. Mas nós somos tão fracos e falhamos a todo momento, como poderemos superar os desejos que nos afastam de Deus e promover um vida no Espírito Santo? Onde encontraremos forças para vencer o parasita que nos consome?
Jesus tem poder sobre as nossas fraquezas.
Paulo desesperado por essa frustração, clama:
Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado. Romanos 7.24–25
Paulo expressa a frustração em sua exclamação: "Que homem miserável sou!" O apóstolo então perguntou: "Quem me livrará deste corpo de morte?". Paulo reconhece que, enquanto estivesse em seu corpo mortal, enfrentaria o conflito com o princípio do pecado interior e teria a derrota em sua própria força.
Contudo, a resposta de Paulo a esta pergunta foi triunfante e imediata: Graças a Deus - por Jesus Cristo nosso Senhor! Paulo nesta resposta está olhando para o triunfo final de Jesus Cristo para seu povo. Assim como os crentes se identificam com Ele em sua morte e ressurreição pela fé aqui e agora, assim eles se unirão ao seu Senhor ressuscitado e exaltado por toda a eternidade em novos corpos, livres para sempre da presença do pecado (Filipenses 3: 20-21).
Na confiança no poder de Cristo, Paulo afirma:
Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim. Gálatas 2: 20
Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós habita. Romanos 8.10–11
Depois de falar objetivamente sobre os dois tipos de pessoas, Paulo dirigiu-se diretamente aos seus leitores. Você, no entanto, é controlado não pela natureza pecaminosa, mas pelo Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus vive em vós. Mas o oposto, no entanto, também é verdadeiro: Se alguém não tem o Espírito de Cristo, ele não pertence a Cristo. Uma vez que somente o Espírito Santo dá a vida espiritual, uma pessoa não pode estar relacionada com Cristo separada do Espírito. Esta declaração também deixa claro que a presença interior do Espírito Santo é a marca identificadora de um crente em Jesus Cristo (1 João 3:24; 4:13). O cristão tem uma batalha dentro de si, uma luta que acabará quando chegar a eternidade, então não será mais necessário lutar, pois todas as coisas velhas passarão e tudo se fará novo. Isso só será possível, porque Jesus foi tentado e nunca pecou, Jesus viveu uma vida em relação com o Pai, guiado pelo Espírito Santo, morreu, porque carregou todo o nosso pecado, e levou sobre si o nosso parasita, o pecado. Jesus venceu a morte, e hoje declara: "Vivam como eu vivi! Eu venci no lugar de vocês, agora vivam comigo!"

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